quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Causa da Educação

 

A Causa da Educação

Milú Villela


Há um consenso cada vez maior da importância da par¬ticipação dos pais na vida escolar de seus filhos. Os resultados ex¬traídos da Prova Brasil mostram que essa participação pode contribuir pa¬ra melhorar o desempenho escolar, como mostrou recentemente um es¬tudo do Unicef. Por outro lado, essa participação é ainda muito tímida e os pais têm delegado às escolas a função da educação plena de seus filhos, o que é um grande equívoco.

Há um sábio provérbio africano que diz: "É preciso toda uma aldeia para educar uma criança". Sem a par¬ticipação efetiva dos pais e de toda a sociedade, fica difícil acelerar o tempo para que a educação brasileira pos¬sa melhorar, de forma que crianças e jovens não apenas passem pela esco¬la, mas, de fato, aprendam.

Ao completar três anos de existên¬cia no último dia 6/9, o movimento Todos pela Educação já pode come¬morar expressivas vitórias, graças ao trabalho em parceria com vários seto¬res da sociedade.

Por outro lado, o movimento sabe que ainda precisa colocar uma maior força na mobilização social pela causa da educação, o que não apenas irá re¬fletir numa maior participação dos pais na educação dos filhos como também em tornar a educação a prio¬ridade número um dos brasileiros.

A última pesquisa, realizada pelo Ibope/CNI, em 2007, por solicitação do movimento, mostrou que a educa¬ção ocupa a sexta prioridade entre os brasileiros e que 72% dos pais estão satisfeitos com a qualidade da educa¬ção oferecida aos seus filhos.

Isso é preocupante se levarmos em conta que, apesar dos avanços recen¬tes, o Brasil, em comparação com paí¬ses mais desenvolvidos, está muito distante quanto à aprendizagem de seus alunos, como revelam os resulta¬dos do Pisa.

Em relação, à meta de aprendiza¬gem do Todos pela Educação, por exemplo, só 23% dos alunos que con¬cluem a quarta série do ensino funda¬mental1 alcançaram o nível adequa¬do de aprendizagem em matemática. Na oitava série do ensino fundamen¬tal 2, esse percentual cai para 14% e, ao final do ensino médio, chega a 10%.

Para ter uma ideia do tamanho do desafio que teremos pela frente, a me ta de aprendizagem para 2022 é de 70%! Portanto, se, por um lado, temos metas claras para melhorar a qualida¬de da educação brasileira, o que há tempos atrás seria difícil de imaginar, por outro lado, estamos muito distan¬tes de oferecer uma educação de qua¬lidade para nossos alunos.

Em recente artigo, o professor José Pastore chamou a atenção para a bai¬xa qualidade da educação brasileira como o principal entrave para que o país ocupe posição de destaque no ranking mundial da competitividade.

Como envolver e sensibilizar os pais nessa importante tarefa não é al¬go simples, tratando-se de um país tão desigual entre suas regiões e de ta¬manho continental.

Nesse contexto, vale salientar o pa¬pel das denominações religiosas, que, em parceria com o Ministério da Edu¬cação e o Todos pela Educação, têm contribuído para envolver as famílias e os pais no processo educacional.

O tamanho continental do Brasil exige,por outro lado, o forte e decisivo envolvimento

dos meios de comunicação. O projeto “No ar”todos pela Educação", em parceria com a Asso¬ciação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), contando com mais de 2.000 rádios em todo o país, vem também ajudando nesse processo de mobilização pela causa de uma educação de qualidade para todos os brasileiros.

Cabe parabenizar a mais recente iniciativa da Rede Globo de Televisão, da Fundação Roberto Marinho e do Canal Futura pelo lançamento do Globo Educação, um programa sema¬nal, aos sábados, divulgando as boas práticas educacionais realizadas por escolas públicas de todo o país.

Outro belo exemplo da força dos meios de comunicação tem sido a mo¬bilização realizada pelo movimento, todos Educar para Crescer, da Editora Abril, em parceria com o Todos pela Educação, que lançou um conjunto de três cartilhas dirigi das aos pais e empresários com dicas para partici¬par da vida escolar de seus filhos e melhorar a qualidade da educação.

Neste momento em que o Todos pela Educação completa três anos de existência, estamos cientes dos avan¬ços registrados no processo de mobi¬lização social, mas precisamos avan¬çar ainda mais pela causa da educação e, assim, legar às futuras gerações um Brasil mais justo e verdadeiramente independente. Sonhamos com esse país e acreditamos que é possível com a participação de todos.



Publicado no Jornal Folha de São Paulo

dia 28/09/2009 Pag. Opinião Tendências/Debates

MILÚ VILLELA

é membro fundador e coordenadora da Co¬missão de Articulação do movimento

Todos pela Educa¬ção, embaixadora da Unesco e presidente do Faça Parte¬Instituto

Brasil Voluntário, do MAM (Museu de Arte Mo¬derna de São Paulo)

e do Instituto Itaú Cultural.

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