terça-feira, 23 de junho de 2009

Qualidade em Educação Exige Metas Ambiciosas



Para físico alemão, responsável pelo PISA, é preciso estabelecer padrões elevados de aprendizagem,sem deixar nenhum aluno para trás

Paola Gentile

Em 2009, estudantes brasilei­ros de 15 anos participarão mais uma vez do exame global de maior repercussão sobre a qualidade do ensino: o Pisa, sigla em inglês para Programa Internacional de avalia­ção de alunos. Nossos resultado; na prova de 2007 foram desanimadores: o Brasil ficou em 53" lugar em matemática e 52" em Ciências, entre 57 participantes, Em leitura, fomos o 48", entre 56 na­ções, já que os americano, não fize­ram o teste. O desempenho cho­cante, no entanto, pode apontar es­tratégias para deixar a rabeira do ranking. Na opinião do responsável pelo Pisa, o alemão Andreas Schleicher, traçar comparações entre resultado- algo corriqueiro nas Ciências naturais, mais pouco comum no campo da Educação - é uma maneira eficaz de entender por que jovens de países como Finlândia, Canadá e Coréia do Sul possuem desempenho tão superior ao dos brasileiros. As principais descober­ta,; indicam que as nações bem-su­cedidas miram alto, estabelecendo metas de qualidade ambiciosas, e garantem que todos consigam de fato aprender. Nesta entrevista a NOVA ESCOLA, concedida duran­te visita a São Paulo, em maio, Schleicher detalha como estruturar essas pratica e, assim, levar o Brasil a encontrar seu caminho para avan­çar mais rápido.

O que os países lanterninhas do Pisa precisam fazer para me­lhorar o desempenho em Edu­cação?
SCHLEICHER - Quem hoje está nas primeiras posições sempre estabeleceu padrões ambiciosos de qualidade e fez questão de compartilha-los com a sociedade, deixando bem claro pais, alunos e escolas aonde se queria che­gar. Nenhum dos líderes do ranking foi tímido no estabelecimento de metas
O que significa ser ambicio­so em termos de Educação?
SCHLEICHER- Significa definir objetivos altos para a rede e padrões individuais ele­vado, amparado pela certeza de que todo aluno é capaz de ter um bom desempenho - respeitando, é claro, sua trajetória particular de vida. Em geral, os sistemas baixam as expec­tativas em relado aos estudantes com dificuldades de aprendizagem, fazendo com que eles fiquem pre­sos a essa situação, provavelmente com outros colegas de resultados ruins. Por isso, é comum que alu­nos ditos "problemáticos" se con­centrem em escolas de baixo desem­penho. É o sistema que os leva ao fracasso,não o contrário
Não é realista exigir que países com sérias dificuldades econômicas e sociais estabele­çam metas ousadas?
SCHLEICHER- De jeito nenhum. Muita gente reclama que as comparações feitas com base no Pisa, que coloca países pobres ao lado das nações mais de­senvolvidas, são injustas. Mas, se finlandeses e canadenses com difi­culdades aprendem quando estão em um ambiente educacional ade­quado, isso também pode ocorrer em nações menos desenvolvidas.
Como garantir que todas as crianças aprendam?
SCHLEICHER - Reconhecendo e aceitando a di­versidade. No passado, concebía­mos as escolas no estilo militar: o professor; dava aula para todos os aluno de forma igual. Mas os es­tudantes são diferentes entre si, cada um vem de um contexto econômi­co e familiar distinto. As escolas, devem lidar de forma construtiva com esse tipo de diferença, o que é um grande desafio, (interessante notar que nos países em que o ensi­no é seriado e excludente, a dispo­sição dos docente, de se engajar para garantir o aprendizado é muito menor. E os alunos percebem isso. Quando perguntamos a ele, se o professor conhece seu potencial in­dividual, ele geralmente diz que o educador é bom, mas também que o trata da mesma forma que a to­dos os outros colegas.
De que maneira a escola deve lidar com a questão da diferen­ça?
SCHLEICHER- Até bem pouco tempo atrás, a estratégia mais comum era separar os estudantes em grupos. Quem não se saia bem continuava mal no ano seguinte ou era mandado para uma escola com menores exigênci­as. A diversidade era enfrentada classificando o estudante, e, assim, os professores se isentavam da respon­sabilidade de ensinar. Mas é impossível dar a mesma aula para 30 crianças diferentes. Escolas e educadores devem perceber que alunos co­muns têm capacidades e talentos fantásticos. Onde estão os pontos fortes de cada um deles? Como de­terminada criança pode desenvolver o tipo de talento que tem? Trata-se de personalizar o aprendizado para fazer com que todos cresçam.
Geralmente o professor é res­ponsabilizado pelo fracasso do aluno, nunca pelo sucesso. Como mudar isso?
SCHLEICHER - Os sistemas educacionais preci­sam oferecer soluções , e os professores, usá-las. No Japão, um professor não tem como se livrar de um aluno que não aprende, mas ele também não é abandonado com o problema. A. escola assume junto a responsabilidade pelo desenvolvi­mento do estudante.
o aprendizado deve ser bus­cado por meio de currículos es­pecíficos ou diretrizes amplas?
SCHLEICHER- Antigamente, dizia-se ao pro­fessor exatamente o que ele deveria fazer e existia um currículo bem es­pecífico e fechado. Na minha opi­nião, esse não é o caminho, mas também não pode haver liberdade total. O que funciona de verdade é indicar ao docente o que realizar, dando a oportunidade de escolher os próprios métodos. Mas não pode ser cada um por si. Os docen­tes precisam trabalhar em conjunto e em articulação com grupos locais para formular' as propostas mais adequadas à realidade de cada lugar. Na Finlândia, por exemplo, não há um currículo Único, mas existem padrões nacionais e cada comuni­dade é responsável pelo desenvolvimento curricular.
De que forma esse trabalho coletivo pode contribuir para a melhoria da qualidade da Edu­cação?
SCHLEICHER -Primeiro, porque isso gera um envolvimeI1ro muito maior dos educadores na tomada de decisões sobre como ensinar. Segundo, por­que o contato com pessoas que exer­cem várias outras profissões cria uma atmosfera muito positiva de soma, recombinação e síntese de saberes de diferentes campos. É um processo mais atinado com a atual sociedade do conhecimento, pois ultrapassa a mera transmissão de saberes.
Nesse sentido, parece que a Educação está ainda bem atrasa­da em relação a outras áreas.
SCHLEICHER- Sim. Em geral, essa partilha de saberes não ocorre nos sistemas educacionais da grande parte das nações. Um exemplo é a atitude di­ante dos erros. Na medicina, quan­do se comete um erro em um hos­pital, outras pessoas em outros hos­pitais aprendem com ele. Isso se dá o tempo todo e ajuda a fazer avan­çar o conhecimento. A troca de in­formações é constante e ocorre em nível mundial. Na Educação, ao con­trário, o erro não é usado para me­lhorar a profissão. Da mesma for­ma, se você é um bom professor e criou soluções inteligentes para en­sinar um determinado conteúdo, o mais provável é que ninguém saiba disso. Se sua escola é boa, é difícil que alguém aprenda com base nas experiências dela. Nesse ponto, a maioria dos países precisa melho­rar muito em relação ao que vem sendo feito.
Além de metas ambiciosas e atenção a todos os alunos, que outros aspectos os lideres do Pisa compartilham? .
SCHLEICHER- Uma característica comum aos sistemas educacionais eficientes é que todos eles atraem as pessoas mais capacitadas para o Magistério. Os salários iniciais são bons, o car­go é valorizado e há a perspectiva de crescimento profissional. Tam­bém existe um eficiente sistema de apoio ao trabalho em sala de aula. Outro aspecto é que há a constante busca para equilibrar a autonomia do professor e da escola com a gran­de responsabilidade que os acom­panha.
Autonomia e responsabilida­de não são princípios conflitantes?
SCHLEICHER- De jeito nenhum. Em muitos paises, é possível observar que es­ses dois fenômenos andam de mãos dadas. Na Suécia, um diretor de escola pode decidir se contrata mais professores ou se compra mais livros. Ou, no caso de ele ter um docente excelente na equipe, se deve pagar a ele mais do que aos outros. Quer dizer, esse gestor tem autonomia econômica. Mas ele também é responsável pelo comprometimento com as diretrizes nacionais, os parâmetros que deixam explícitos os resultados a alcançar. Ou seja; cada escola tem indepen­dência para administrar seus recur­sos, mas o preço dessa liberdade é o compromisso com um padrão de qualidade.
Aferir qualidade exige avali­ação externa. Os educadores dos países de ponta não consideram isso uma interferência em seu trabalho?
SCHLEICHER- Não há nenhum tipo de cons­trangimento. A avaliação é encarada como um sistema que fornece per­manentemente informações deta­lhadas sobre o desempenho de alu­nos e professores. Os dados mos­tram os pontos que prensam ser melhorados, servindo mais como um diagnóstico e menos como uma amostra do nível onde se está.
O que os professores preci­sam fazer com esse diagnóstico?
SCHLEICHER- Podem usá-la para repensar a prática na sala de aula. Se um pro­fessor recebe apenas a pontuação de sua aula, é muito provável que não saiba o que fazer com ela. Já um profissional que utiliza os resulta­dos como forma, de aprimorar sua atuação tem em mãos uma ferramenta muito útil. Com a avaliação, o professor se vê no espelho, perce­bendo com clareza pontos fortes e fracos.
Há algum país em que o Bra­sil poderia se espelhar para dar esse salto de qualidade nas esco­las?
SCHLEICHER- Não acho possível copiar um sistema educacional. O que é factível é observar as atitudes que tiveram êxito. Por exemplo, a China é um pais pobre, mas o valor que a socie­dade atribui A Educação é enorme. Não é por acaso Que a instrução se constitui em um dos principais fa­tores de mobilidade social no país. Outro exemplo: a Coréia do Sul, que na década de 1960 tinha um sis­tema educacional muito pouco de­senvolvido - e atualmente é um dos melhores do mundo. A razão da mudança foi a mesma: a valoriza­ção da Educação, algo que ainda pre­cisa ser criado no Brasil.
Mas é possível conseguir Educação de qualidade sem o desenvolvimento social e econô­mico?
SCHLEICHER- É preciso antes de tudo averi­guar o que é causa e o que é efeito. Em geral, a atitude de quase todos os países da América do Sul tem sido a de esperar que a economia deslanche para, quando enriquecer, ter um ensino de qualidade. Mas os exemplos da Coréia do Sul e da China mostram o contrário: essas nações são duas das que mais se desenvolvem hoje porque investi­ram em Educação. Anteriormente, o mesmo aconteceu com os Esta­dos Unidos, que após a Segunda Guerra Mundial aplicaram muito dinheiro em instrução e Vêm co­lhendo bons resultados por déca­das. A atitude de aguardar o crescimento econômico para depois 'comprar' mais Educação é impro­vável de acontecer. O desenvolvi­mento econômico não garante nada. Nem é preciso olhar para fora para perceber isso: basta ver as esco­las brasileiras que têm recursos, mas não apresentam bons resultados quando comparadas à média. Por outro lado, é possive! apontar mui­tas instituições que, apesar das des­vantagens sociais, se saem bem.


Referência Bibliográfica
A Melhoria da Qualidade e da Equidade na Educação:
Desafios e Respostas Políticas
Andréas Schleicher, 72 págs.
Editora Moderna – Edição Esgotada

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pais Brilhantes Professores Fascinantes

PARA ONDE CAMINHA A JUVENTUDE
Na integra do Autor Augusto Cury
Do livro Pais brilhante & professores Fascinantes
Editora SEXTANTE 16ª Edição 2003-RJ
Leitura obrigatória para Pais e professores

Há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e de cada jovem. Só não consegue descobri-lo quem está encarcerado dentro do seu próprio mundo.

Nossa geração quis dar o melhor para as crianças e os jovens. Sonhamos grandes sonhos para eles. Procura­mos dar os melhores brinquedos, roupas, passeios e escolas. Não queríamos que eles andassem na chuva, se machucas­sem nas ruas, se ferissem com os brinquedos caseiros e vivessem as dificuldades pelas quais passamos.
Colocamos uma televisão na sala. Alguns pais, com mais recursos, colocaram uma televisão e um computador no quarto de cada filho. Outros encheram seus filhos de ativi­dades, matriculando-os em cursos de inglês, computação, música.
Tiveram uma excelente intenção, só não sabiam que as crian­ças precisavam ter infância, que necessitavam inventar, correr riscos, frustrar-se, ter tempo para brincar e se encantar com a vida. Não imaginavam o quanto a criatividade, a felicidade, a ousadia e a segurança do adulto dependiam das matrizes da memória e da energia emocional da criança. Não compreenderam que a TV, os brinquedos manufaturados, a Internet e o excesso de atividades obstruíam a infância dos seus filhos.
Criamos um mundo artificial para as crianças e pagamos um preço caríssimo. Produzimos sérias conseqüências no território da emoção, no anfiteatro dos pensamentos e no solo da memória deles. Vejamos algumas conseqüências.

Obstruindo a inteligência das crianças e adolescentes
Esperávamos que no século XXI os jovens fossem solidá­rios, empreendedores e amassem a arte de pensar. Mas muitos vivem alienados, não pensam no futuro, não têm garra e projetos de vida.
Imaginávamos que, pelo fato de aprendermos línguas na escola e vivermos espremidos nos elevadores, no local de tra­balho e nos clubes, a solidão seria resolvida. Mas as pessoas não aprenderam a falar de si mesmas, têm medo de se expor, vivem represadas em seu próprio mundo. Pais e filhos vivem ilhados, raramente choram juntos e comentam sobre seus sonhos, mágoas, alegrias, frustrações.
Na escola, a situação é pior. Professores e alunos vivem juntos durante anos dentro da sala de aula, mas são estranhos uns para os outros. Eles se escondem atrás dos livros, das apostilas, dos computadores. A culpa é dos ilustres profes­sores? Nãol A culpa, como veremos, é do sistema educa­cional doentio que se arrasta por séculos.
As crianças e os jovens aprendem a lidar com fatos lógicos, mas não sabem lidar com fracassos e falhas. Aprendem a resolver problemas matemáticos, mas não sabem resolver seus conflitos existenciais. São treinados para fazer cálculos e acertá-Ios, mas a vida é cheia de contradições, as questões emocionais não podem ser calculadas, nem têm conta exata.
Os jovens são preparados para lidar com decepções? Não!
Eles são treinados apenas para o sucesso. Viver sem problemas é impossível. O sofrimento nos constrói ou nos destrói. Deve­mos usar o sofrimento para construir a sabedoria. Mas quem se importa com a sabedoria na era da informática?
Nossa geração produziu informações que nenhuma outra jamais produziu, mas não sabemos o que fazer com elas. Raramente usamos essas informações para expandir nossa qualidade de vida. Você faz coisas fora da sua agenda que lhe dão prazer? Você procura administrar seus pensamentos para ter uma mente mais tranqüila? Nós nos tornamos máquinas de trabalhar e estamos transformando nossas crianças em máquinas de aprender.

Usando erradamente os papéis da memória
Fizemos da memoria de nossas crianças um banco de dados. A memória tem esta função? Não ! Veremos que du­rante séculos a memória foi usada de maneira errada pela es­cola. Existe lembrança? Inúmeros professores e psicólogos do mundo todo crêem sem sombra de dúvida que existe lem­brança. Errado! Não existe lembrança pura do passado, o passado é sempre reconstruído! É bom ficarmos abalados por esta afirmação. O passado é sempre reconstruído com micro ou macrodiferenças no presente.
Veremos que há diversos conceitos equivocados na ciência sobre o fantástico mundo do funcionamento da mente e da memória humana. Tenho convicção, como psiquiatra e como autor de uma das poucas teorias da atualidade sobre o pro­cesso de construção do pensamento, de que estamos obstruindo a inteligência das crianças e o prazer de viver com o excesso de informações que estamos oferecendo a elas. Nos­sa memória virou um depósito de informações inúteis.
A maioria das informações que aprendemos não será orga­nizada na memória e utilizada nas atividades intelectuais. Imagine um pedreiro que a vida toda acumulou pedras para construir uma casa. Após construí-Ia, ele não sabe o que fazer com as pilhas de pedras que sobraram. Gastou a maior parte do seu tempo inutilmente.
O conhecimento se multiplicou e o número de escolas se expandiu como em nenhuma outra época, mas não estamos produzindo pensadores. A maioria dos jovens, incluindo univer­sitários, acumula pilhas de "pedras", mas constroem pouquíssi­mas idéias brilhantes. Não é à toa que eles perderam o prazer de aprender. A escola deixou de ser uma aventura agradável.
Paralelamente a isso, a mídia os seduziu com estímulos rápidos e prontos. Eles tornaram-se amantes do fast food emocional. A TV transporta os jovens, sem que eles façam esforços, para dentro de uma excitante partida esportiva, para o interior de uma aeronave, para o cerne de uma guerra e para dentro de um dramático conflito policial.
Esse bombardeio de estímulos não é inofensivo. Atua num fenômeno inconsciente da minha área de pesquisa, chamado' de psicoadaptação, aumentando o limiar do prazer na vida real. Com o tempo, crianças e adolescentes perdem o prazer nos pequenos estímulos da rotina diária.
Eles precisam fazer muitas coisas para ter um pouco de prazer, o que gera personalidades flutuantes, instáveis, insa­tisfeitas. Temos uma indústria de lazer complexa. Devería­mos ter a geração de jovens mais felizes que já pisaram nesta terra. Mas produzimos uma geração de insatisfeitos.

Estamos informando e não formando
Não estamos educando a emoção nem estimulando o desenvolvimento das funções mais importantes da inteligên­cia, tais como contemplar o belo, pensar antes de reagir, expor e não impor as idéias, gerenciar os pensamentos, ter espírito empreendedor. Estamos informando os jovens, e não formando sua personalidade.
Os jovens conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada sobre o mundo que são. No máximo co­nhecem a sala de visitas da sua própria personalidade. Quer pior solidão do que esta? O ser humano é um estranho para si mesmo' A educação tornou-se seca, fria e sem tempero emo­cional. Os jovens raramente sabem pedir perdão, reconhecer seus limites, se colocar no lugar dos outros. Qual é o resultado?
Nunca o conhecimento médico e psiquiátrico foi tão gran­de, e nunca as pessoas tiveram tantos transtornos emocionais e tantas doenças psicossomáticas. A depressão raramente atingia as crianças. Hoje há muitas crianças deprimidas e sem encanto pela vida. Pré-adolescentes e adolescentes es­tão desenvolvendo obsessão, síndrome do pânico, fobias, timidez, agressividade e outros transtornos ansiosos.
Milhões de jovens estão se drogando. Não compreendem que as drogas podem queimar etapas da vida, levá-los a envelhecer rapidamente na emoção. Os prazeres· momentâ­neos das drogas destroem a galinha dos ovos de ouro da emo­ção. Conheci e tratei de inúmeros jovens usuários de drogas, mas não encontrei ninguém feliz.
E o estresse? Não apenas é comum detectarmos adultos estressados, mas também jovens e crianças. Eles têm fre­qüentemente dor de cabeça, gastrite, dores musculares, suor excessivo, fadiga constante de fundo emocional.
Precisamos arquivar esta frase e jamais esquecê-la:Quanto pior for a qualidade da educação, mais importante será o papel da psiquiatria neste século. Vamos assistir passi­vamente à indústria dos antidepressivos e tranqüilizantes se tornar uma das mais poderosas do século XXI? Vamos obser­var passivamente nossos filhos serem vítimas do sistema social que criamos? O que fazer diante desta problemática?

Procurando pais brilhantes e professores fascinantes
Devemos procurar soluções que ataquem diretamente o problema. Precisamos conhecer algo sobre o funcionamento da mente e mudar alguns pilares da educação. As teorias não funcionam mais. Bons professores estão estressados e geran­do alunos despreparados para a vida. Bons pais estão confu­sos e gerando filhos com conflitos. Existe no entanto uma grande esperança, mas não há soluções mágicas.
Atualmente, não basta ser bom, pois a crise da educação impõe que procuremos a excelência. Os pais precisam ad­quirir hábitos dos pais brilhantes para revolucionar a educação. Os professores precisam incorporar hábitos dos educadores fascinantes para atuar com eficiência no pequeno e infinito mundo da personalidade dos seus alunos.
Cada hábito praticado pelos educadores poderá contribuir para desenvolver características fundamentais da personalidade dos jovens. São mais de cinqüenta estas características. Entre­tanto, raramente um jovem tem cinco delas bem desenvolvidas.
Precisamos ser educadores muito acima da média se qui­sermos formar seres humanos inteligentes e felizes, capazes de sobreviver nessa sociedade estressante. A boa notícia é que pais ricos ou pobres, professores de escolas ricas ou carentes podem igualmente praticar os hábitos e técnicas pro­postos aqui.

Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibili­dade para aprender.

Aproveito para dedicar este texto ao professor Marcelo Oldra de Biologia Do Colégio Republica do Suriname- São Paulo –SP Leste 2 pela forma como tem desenvolvido suas práticas educativas com muita percepção educativa e formativa.

Parabéns “Gaúcho”
Na visão do Colega de Sociologia: Professor Fascinante

terça-feira, 2 de junho de 2009

A Educação e a Crise Financeira
Jornal O Estado de São Paulo 14/10/08

José Pastore

A depressão americana foi um tempo de grandes devastações. Os estragos do crash do dia 24 de ou­tubro de 1929 duraram mais de dez anos.
No início da crise (1929-32), os EUA perderam um terço do seu PIB. Os lucros das empresas redu­ziram-se a 25% do que eram. Os salários perderam 42% do poder aquisitivo A renda dos agricultores caiu 68% Foi um desastre colossal. Em 1933, 25% da força de tra­balho estava totalmente desempre­gada. Entre os empregados, o nú­mero de horas trabalhadas enco­lheu. O tempo parcial explodiu (John K. Galbraith, The Great Crash.1954).
O que aconteceu com a educa­ção no meio de tanto tumulto?
Nesse campo, os EUA executa­ram uma verdadeira operação de guerra, conseguindo ironicamente elevar o nível educacional da popu­lação. As dificuldades foram contornadas e superadas, uma a uma. Entre 1929-32, os salários dos pro­fessores sofreram um corte de 14% em termos reais. Houve muitas dispensas. Os diretores entraram em seu lugar passando a dar aulas que, em muitos casos, melhoraram de qualidade. Além disso, as escolas aumen­taram o tamanho das classes e am­pliaram o número de dias letivos, O número de crianças matriculadas na escola primária aumentou o mesmo ocorreu com os adolescen­tes do ensino médio. Por falta de oportunidades de trabalho, muitos prolongaram a sua estada na escola alunos e professores tiveram me­nos férias. Ninguém perdeu tempo enquanto o país estava quase pa­rado.
Um outro fato interessante: numa quadra em que todas as des­pesas públicas foram drasticamen­te cortadas, o governo aumentou as verbas para as bibliotecas. gran­des acervos passaram a atender os milhares de desempregados que lotavam as bibliotecas, transformando o ócio em aprendizagem. Criaram-se as bibliotecas itinerantes. A capilarização do conhecimento foi enorme. Em suma, o tempo foi muito bem usado' (David Tyack e outros, Public Schools in Hard Ti­mes, 1984).
Com esses remanejamentos e com uma forte dose de sacrifício, o desempenho das escolas americanas se manteve em nível bastante razo­ável e o capital humano reteve e até melhorou de qualidade. Foram es­sas engenhosas providências no campo da educação que viabilizaram o New Deal (1930-39) que precisou de gente motivada e preparada para o trabalho.
A Europa e o Japão no pós-­guerra também são exemplos de sucesso em matéria de recuperação acelerada. As guerras não destruíram as idéias. Nos dois casos, a ma­nutenção das escolas funcionando garantiu uma força de trabalho de boa qualidade. Os parlamentares americanos demoraram muito para aprovar o Plano Marshall porque queriam ter certeza de que os países da Europa podiam aumentar a produtividade do trabalho em 15% entre 1948 e 1952, o que foi ultra­passado graças aos cuidados Que tiveram com a educação .
A manutenção da capacidade para produzir e inovar foi um dos fatores mais importantes na reto­mada do desenvolvimento daque­les países; A preservação da ética do trabalho foi outro.
O mesmo aconteceu com a Coréia do Sul na década de 90. O colossal imbróglio financeiro em que o país se meteu também abalou o lado real da economia. Mas os 40 anos de bons investimentos em educação valeram muito A boa qualidade do ensino durante a crise ficou intacta.
Se essa foi a "receita" nas déca­das passadas, o que dizer dos dias atuais que passam por uma revolu­ção tecnológica meteórica que exige o domínio de uma imensidão de conhecimentos?
Convém prestar atenção nesses fatos. Os EUA , a Europa e a Ásia não morreram porque mantiveram seu povo educado e pronto para reagir rapidamente na hora da re­construção. Povos educados são sempre mais agressivos do que po­vos deseducados. É com eles que o Brasil terá de competir.
Precisamos evitar que a recessão venha a dilapidar o nosso capital humano que, ademais, está em fase de formação. Temos de investir com mais vigor na melhoria da qualida­de do ensino. Se há cortes a fazer nas despesas públicas - e há muitos -, que não seja na área da educação. É mais importante do que manter os recursos é usá-los bem, com es­pecial ênfase na melhoria da quali­dade dos professores e diretores. Mais uma coisa: sacrifícios adicio­nais serão indispensáveis e o corporativismo terá de ser contido.

'José Pastore é professor de re­lações do trabalho da Universidade de São Paulo
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