quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A violência pode dar lugar à paz



A violência pode dar lugar à paz 
LUIS CARLOS DE MENEZES (pensenisso@abril.com.br)



Físico e educador da Universidade de São Paulo.
 
  Agressões e depredações ocorrem quando impera a desesperança, que só é vencida se a instituição de ensino cumpre sua função social


                      Neste temposdifíceis, somos desa­fiados a compreender por que se repetem episódios de agressão nas escolas e contra elas. Nós, educadores, devemos rejeitar diagnósticos simplistas e superar propostas de mera repressão, pois sabe­mos que a escola não é uma ilha aparta­da do contexto social e tudo o que nela ocorre tem também caráter educacional. Nesse sentido, ora vemos seus problemas serem resolvidos em ambientes de diálo­go, ora percebemos que impera o descon­trole de conflitos. Distinguir essas duas situações pode evitar que um espaço de trabalho se degenere e venha a se tomar agressivo e violento.
Podemos comparar a paz necessária ao ensino com a vitalidade indispensá­vel à vida humana. Saúde não é a estática ausência de doenças, mas uma condição dinâmica de funções vitais que se rea­lizam e se recompõem. Isso fica claro quando, por exemplo, um ferimento se cicatriza ou nosso corpo supera res­friados e intoxicações sem deixar que se agravem. Do mesmo modo, paz não é ausência de tensões, mas a capacidade de evitá-las e resolvê-las. Uma escola gera a harmonia se decide enfrentar seus dile­mas e conflitos para fazer o que dela se espera: formar as crianças e os jovens que recebe, promovendo conhecimentos, ha­bilidades e valores.
Essa analogia vale também pela sua negativa, pois, da mesma forma que longas frustrações comprometem a saú­de pessoal, a tranquilidade é ameaçada numa situação em que não se aprende, já que se sentem 'privados tanto alunos como pais e professores. Ao ver a depredação de estabelecimentos de ensino nos noticiários da TV e incidentes ocorridos dentro de seus muros relatados nas co­lunas policiais dos jornais, é inevitável a comparação com rebeliões e crimes em presídios. Ambos os fatos têm em comum o descrédito de instituições que, em princípio, deveriam preparar ou re­cuperar as pessoas para o convívio em sociedade. Nos dois casos, a falta de res­peito por um bem público ou pela vida decorre da desesperança.
É falsa a generalização de que se pos­sa creditar tudo isso à pobreza, pois sei de unidades da rede pública em áreas de risco que fazem um ótimo trabalho ao lado de outras que se omitem atrás de desculpas. As primeiras aprenderam a lidar com casos de gravidez na adoles­cência, com abuso de drogas e com di­ficuldades na aprendizagem por maus tratos domésticos, e isso sem abrir mão de que as aulas sejam de fato dadas e que nelas os estudantes se envolvam e se desenvolvam, habituando-se a convi­ver com regras claras e compreendidas por todos. Essas instituições reconhecem como suas as dificuldades educacionais ou sociais enfrentadas no dia-a-dia - nas mesmas condições adversas em que ou-
otras sucumbiriam - e provavelmente por isso não são cenários de violência entre as pessoas ou contra suas instalações.
Seus educadores não se consideram heróis ou mártires, e se algo os distingue é seu sentido de pertencimento à escola e vice-versa. Professores, coordenação e direção constituem uma efetiva equipe e alguns integrantes mais experientes ou há mais tempo na unidade respondem  memória e pelo compromisso ins­titucional, ou seja, seu corpo docente é realmente um corpo, e isso nos traz de volta à comparação entre paz e saúde. Quando a escola tem esse saudável compromisso com sua função social, pode receber tensões do entorno e se deparar com os mesmos problemas que outras, mas os ataca para que não se tornem crônicos e não permite que essa atmosfera negativa contamine o • convívio e as relações de aprendizagem. Não se trata de maquiar desigualdades­ que precisam ser enfrentadas na escola e fora dela - ou glorificar a pobreza, mas reconhecer o bom combate da Educação travado nas circunstâncias em que ele é mais difícil. A isso se chama paz


“Uma escola gera a harmonia se decide enfrentar seus dilemas e conflitos para fazer que dela se espera: formar os alunos que recebe.”
 
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