sábado, 23 de agosto de 2008

ANGUSTIA HUMANA

ANGUSTIA HUMANA NO PENSAMENTO FENOMENOLOGICO EXISTENCIAL

O tema angústia em Sartre não pode ser visto deslocado do contexto maior de sua obra, em especial o livro "O SER E O NADA", no qual apresenta uma visão filosófica do que entende de fato por angústia. É bem verdade, no entanto, que seus personagens encarnam temas existenciais e desta forma têm presentes a angústia como um denominador comum. Talvez possamos questionar até que ponto Sartre expressava por meio de seus personagens a sua própria angústia e não uma angústia universal inerente a espécie humana. O que vemos, no entanto, é que os personagens de Sartre são pessoas com profundos problemas existenciais e geralmente cobertos por um forte sentimento de angústia. Sartre se baseia em Kierkegaard e Heidegger nas suas formulações sobre a angústia, bem como em Husserl no tocante ao método fenomenológico de sua Filosofia.
O Existencialismo é uma Filosofia do homem, e para o homem, a qual teve grande repercussão mundial, em parte, talvez, por seus temas irem de encontro a problemáticas existenciais que o humano do meio deste século, de frente para uma guerra monstruosa e de conseqüências alarmantes, se via tendo de enfrentar e compreender, de forma a reerguer um mundo destruído em todos os aspectos e sentidos. Sem dúvida, a guerra e suas conseqüências posteriores, foram elementos que ajudaram de certa forma ao Existencialismo de J. P. Sartre a se irradiar rapidamente por um mundo em crise. Crise existencial Se bem que possamos reportar o Existencialismo até origens bem remotas na história da Filosofia, dentro da forma e acepção moderna do termo, ele tem início com M. Heidegger (se bem que este não se considere existencialista), ou antes, com Kierkegaard, já que alguns argumentam ser o pensamento de Heidegger (1889-1976) uma nota ao pé de página no pensamento de Kierkegaard (1813-1855).No entanto, aquele que tornou tal doutrina conhecida mundialmente foi Sartre (1905-1980) e cabe a ele e as suas formulações teóricas a popularização do Existencialismo enquanto Filosofia e forma de vida, Sartre é um dos maiores representantes deste movimento e a corrente a que ele faz parte é denominada Existencialismo Ateu em contraposição ao Existencialismo Cristão, o qual teria como principal representante a Gabriel Marcel (1889-1973).Devemos lembrar também a contribuição de Karl Jaspers (1883-1969) à Filosofia da Existência.O Existencialismo enquanto corrente filosófica, tem como ponto central de reflexões a realidade humana enquanto Ser existente.Problemas ditos existenciais são tratados com ênfase e a problemática ontológica passa a ter sua maior preocupação, interesse e problemática no humano enquanto Ser existente e com características próprias que o diferenciam qualitativamente dos outros seres ao seu redor, papel ontológico do humano, a sua possibilidade de liberdade, suas frustrações, emoções e angústia, sua consciência e sua relação e interação com o mundo circundante são alguns temas existencialistas.
A angústia é um sentimento não voltado diretamente para o mundo externo, como o medo ou a ansiedade, mas sim de caráter bem mais subjetivo, denota e conota uma instabilidade ou insegurança difícil de ser descrita.Mas no caso da angústia, esta não se dá em virtude de fatores meramente externos e sim em relação ao humano diante de si mesmo, por meio de sua consciência reflexiva.Sartre, na esteira de outros pensadores, como a exemplo Kierkegaard, irá desenvolver o tema da angústia, procurando mostrar as suas origens e causas, o que passaremos agora paulatinamente a tentar expor, sendo que para atingirmos tal intento, será necessário explicar alguns outros fatores dentro da teoria de Sartre, como a exemplo, o Ser em si e o Ser para si.Ao se voltar para a temática ontológica, e tendo em vista o pensamento de Heidegger, Sartre diferencia o Ser em si do para si.Chama Sartre de Ser em si aos objetos ou mesmo animais, os quais são e não poderão por si próprios virem a Ser algo outro do que são.Uma jarra é uma jarra e continuará por toda a sua existência a Ser uma jarra e mesmo o seu uso é padronizado e estipulado pelos humanos que a utilizam, não cabendo à jarra liberdade ou escolha quanto ao que ela é, foi e será ou mesmo para que serve ou possa vir a servir.
O Ser de uma jarra, como o de qualquer outro objeto, é um Ser aí, um Ser em si mesmo e no qual não cabem mudanças próprias ou alterações intencionais.O Ser em si é isto, no sentido de algo acabado e pronto. É o que é e nada que provenha dele, de seu interior, poderá alterar tal circunstância. Já o Ser para si é o humano, o qual dotado de uma consciência reflexiva é capaz de alterar o seu lugar no mundo e o próprio mundo ao seu redor.Enquanto no Ser em si já está tudo dito, no Ser para si está tudo por dizer, pois cabe a este decidir o que é e o que será. O humano por meio de sua consciência é sempre um Ser para si. O pensamento de Sartre sobre a consciência, bem como o método fenomenológico são dívidas deste para com Edmund Husserl (1859-1938).Não fosse tal consciência, o humano se assemelharia aos objetos ou animais, pois os objetos não possuem tal consciência e, se bem que seja discutível se os animais possuem ou não uma consciência. A consciência intencional de um objeto, a consciência de algo, presente no Ser para si, pode ser consciência de um outro Ser (em si ou para si) em um dado lugar e momento, o qual, não correspondendo a presença que esta consciência suscita, ou seja, estando o objeto da consciência ausente de onde esta imagina encontrá-lo, quando esta consciência se apercebe desta ausência ela a capta como a presença de uma ausência.
Como a liberdade é oriunda da consciência, o humano, mesmo preso e sobre tortura é livre, pois cabe a ele e a mais ninguém tomar as suas próprias decisões e escolher seus caminhos.O humano não pode recusar sua condição de Ser livre, enquanto Ser para si
A liberdade implica em responsabilidades, pois sendo o humano livre, é ele responsável perante si mesmo por cada ato por ele executado ou não executado.
O humano, Ser para si, dotado de uma consciência intencional, de uma consciência reflexiva, detentor da possibilidade de nadificar, de "impor ao mundo" a presença do nada, é livre e justamente por sua inteira liberdade não possui uma essência, pois esta será criada e recriada a partir da existência livre do Ser humano.mano pode fingir consciente, no qual assume a sua liberdade de Ser isto e não aquilo outro, pois tal liberdade não está em seu corpo e sim na condição de seu Ser enquanto Ser para si, na sua consciência reflexiva, consciência intencional, consciência de algo, consciência capaz de nadificar, de apresentar a presença do nada no mundo.A conseqüência desta liberdade absoluta, a partir de uma reflexão consciente sobre a mesma, é a angústia.A angústia surge ante às decisões, tomadas de decisões, e à responsabilidade sobre as mesmas.A angústia está no próprio processo decisório e na liberdade que o pré-supõe e independe de valores como certo ou errado ou bem e mal, bem como independe da decisão tomada dar certo ou errado, atingindo ou não os seus objetivos.
A angústia foi também trabalhada por outros autores antes de Sartre e o pensamento dos mesmos é importante para melhor compreendermos a evolução do pensamento do próprio Sartre. Talvez um dos mais célebres filósofos a tratar deste tema tenha sido Kierkegaard, o qual nos apresenta a angústia interligada a temas religiosos/cristãos e o pecado original, no entanto, se entendermos tais alusões religiosas em forma de metáforas, teremos uma real simetria com o pensamento de Sartre sobre a angústia, isto uma vez que para Kierkegaard a angústia se dá ante a possibilidade de liberdade do humano frente às proibições e a Deus. A angústia antecede ao pecado original e já existe, portanto, no estado de inocência. A angústia se diferencia da culpa, como também do medo; será vista como um sentimento interiorizado e existencial anterior a culpa e sendo visto como a possibilidade de exercer a liberdade mesmo ante proibições sagradas. Angústia e liberdade são entrelaçadas na existência humana e não seria possível uma sem a outra. A angústia surge da relação da liberdade com a culpa.A proibição em si não é responsável pela angústia e sim a possibilidade que a liberdade humana confere ao indivíduo para que este possa optar por obedecer ou não a proibição.Kierkegaard argumenta ainda, que quanto mais próximo de Deus e virtuoso for o humano, mais angustiado será a sua condição existencial.No fundo, trata-se também do sentimento interiorizado de angústia ante a liberdade humana perante as suas tomadas de decisões.Se pensarmos agora na angústia dentro do pensamento de M. Heidegger, temos que esta temática se insere na temática maior da existência autêntica e inautêntica.A existência autêntica, ao contrário da inautêntica, se caracteriza por uma tomada de consciência das limitações e do caráter contingente do humano. Dentre as limitações de que tomamos conhecimento, está o fato inexorável da nossa própria morte.Pela característica antecipatória do Dasein, o humano dentro de uma existência autêntica toma consciência da facticidade de sua própria morte e da angústia que acompanha este saber.A angústia é condição do existir autêntico ante à sua contingência e limitações e condição de o mesmo desenvolver as suas reais potencialidades e viver a sua liberdade.A existência antecipa o nada e a morte que este traz. O nada passa a ser visto como uma necessidade em dado futuro, nada aqui visto como a aniquilação do Ser, do deixar de Ser.Os limites não são, no entanto, negativos, tendo o indivíduo tomado consciência dos mesmos, da sua própria contingência, pode finalmente se desenvolver dentro de sua potencialidade e liberdade, estando sempre presente o sentimento de angústia, condição natural do Ser humano quando diante de sua contingência, limites e da facticidade de sua morte.Já Sartre colocará a angústia como decorrente da liberdade humana na tomada de suas próprias e individuais decisões.Nos três pensadores discutidos, a angústia está vinculada a um processo existencial próprio do humano em decorrência da facticidade e contingência de seu Ser. O humano deve assumir uma postura ante o mundo que o circunda, postura esta oriunda de uma reflexão consciente, na qual toma conhecimento do lugar e papel que ocupa no mundo, das suas responsabilidades, contingência, liberdade e individualidade decisória. Cabe ao humano assumir a autenticidade de seu Ser, não se iludindo em algum papel fictício que sirva para lhe afastar da profunda angústia perante a sua existência na condição própria do Ser humano. É sem dúvida alguma a angústia, a característica básica do Ser humano.
A condição de Ser angustiado é inerente ao humano e toda a sua existência é perpassada pela angústia. Estranho, no entanto, que aparentemente as pessoas não demonstrem esta angústia em seu Ser, mas tal se deve, segundo Sartre, a estratagemas de fuga, no qual o humano abdica de suas possibilidades de desenvolvimento real e liberdade para evitar a angústia e responsabilidade por esta mesma liberdade.O humano é o Ser da angústia e que se faz pela angústia. A angústia é a condição própria do Ser do humano enquanto Ser existente.O verdadeiro desenvolvimento existencial humano se daria a partir da reflexão consciente de sua liberdade e da aceitação de sua angústia ante sua condição peculiar enquanto Ser neste mundo.O humano é um Ser inteligente e como tal consegue montar estratagemas e estratégias pelos quais pensa poder ludibriar o incômodo sentimento de angústia. Assume papéis e personagens, e luta por vezes, para provar a si mesmo que não é livre, angustiado, finito ou contingente, negando por força de artifícios uma realidade peculiar e nem sempre agradável que emana de um processo de conscientização existencial. Um indivíduo pode, por exemplo, fugir ao medo por meio da reflexão, aceitando um futuro indeterminado, no qual as realidades mais negras são somente prováveis e desta forma não assume uma posição existencial consciente do sentimento que lhe aflige, escamoteando-se num Indeterminismo ou Relativismo concernente aos eventos presentes e futuros.No tocante à angústia, um indivíduo pode empreender um processo de fuga no qual argumenta a favor de um rigoroso determinismo biológico/psicológico no tocante a sua conduta, a falha está em que as atitudes ou comportamentos são somente possíveis e não necessários.A indecisão também é uma forma de fugir da angústia, a qual, no entanto, acaba por gerar uma contra-angústia que conduz o indivíduo a uma dada resposta.Por meio da mecanização da conduta pode o humano tentar se esquivar a angústia, se portando como um autômato que faz isto ou aquilo sem questionar ou decidir sobre o que faz. A mecanização é uma fuga que atua desde a rotina diária, ao trabalho, até os padrões morais e éticos, os quais perdem o sentido ao virarem meros comportamentos ou atitudes mecanizadas.Se quiséssemos agrupar todos os tipos de fugas possíveis, teríamos dois grupos: 1º o da fuga não reflexiva, a qual se dá mecanicamente e sem o advento da consciência reflexiva. A 2º seria a fuga reflexiva, a qual ocorre estruturando argumentos de ordem teórica e racional.Tais tentativas têm uma eficácia reduzida, pois a condição natural do humano é a angústia, oriunda de sua total liberdade e do fato de ser ele o fundamento único de todos os fundamentos e valores, não tendo um outro fundamento ou valor a que recorrer a não ser a si próprio na sua condição de Ser livre que decide sobre os rumos de sua existência, capaz de assumir por conta própria o papel social que quiser e adotar os valores que bem entender, pois é ele e mais ninguém que fundamenta estes valores e suas próprias atitudes e comportamentos.a qual tenta, por vezes, se livrar escamoteando-se em determinadas condutas que visem a afastar a realidade da angústia. Vimos também que esta fuga não é possível, pois a angústia continuará de certa forma presente na vida do ser humano.

Bibliografia:
Levy , Bernard Henri (2001) o século de Sartre Rio de janeiro Nova Fronteira
Persigão ,Paulo(2005) Existência e Liberdade São Paulo moderna
Moutinho, Luiz Damon (1996) Existencialismo e Liberdade. Porto Alegre

sexta-feira, 1 de agosto de 2008


Educação
e estudo


O objetivo deste artigo é
o de encaminhar o racio­cínio no sentido de que a educação de sucesso exige muito esforço dos estudan­tes, desde a tenra idade.
Hoje temos a nossa disposição muitos meios de acesso às mais variadas informações, de todas as áreas do conhecimento humano, tanto em publi­cações, quanto no abun­dante material disponível na Internet. Isso tudo ajuda bastante aquele que quer realmente obter progresso na vida, em todos os as­pectos, dependendo evi­dentemente do grau de es­forço de cada um. Mais do que nunca, o lema "educar é preciso" se faz necessá­rio para que possamos nos qualificar para atender as demandas do dia-a-dia, bem como alcançar a re­alização pessoal e profis­sional, em meio aos tantos desafios existentes.
A educação se faz com informação, visando a formação humana. Nesse sentido, requer dos nos­sos educadores visão de conjunto e paciência, por isso o processo educacio­nal leva anos. Não dá para formar uma consciência crítica e criativa, que saiba lidar com a complexidade dos problemas do tempo presente, com pressa, no imediatismo.
Às vezes vemos adoles­centes e jovens que que­rem fazer cursos rápidos, disso ou daquilo, muitas vezes de temas específicos, achando que irão conse­guir um lugar ao sol da noi­te para o dia. Não é assim que as coisas acontecem. Estudar requer paciência, esforço, dedicação, horas de leitura, diálogo com profissionais e especialis­tas, troca de informações e experiências, pesquisa,
etc. tudo isso leva tempo, e o resultado de quem faz este percurso com serie­dade é compensador. Por isso, solicitamos primeiramente aos pais, que em­penhem-se em motivar seus filhos, desde cedo, ao estudo, ao hábito da leitu­ra, para que adquiram, aos poucos, a gama de conhe­cimentos que precisam para entender o mundo e a realidade a sua volta, e possam interagir com sa­bedoria nesta mesma rea­lidade, propondo soluções criativas e inteligentes.
É preciso, portanto, que as crianças e adolescentes, desde os primeiros anos, se habituem a estudar, a dedicarem um certo tempo do dia para a aquisição de conhecimentos, para que não haja falha de pré-re­quisitos que não venham a comprometer a capaci­dade intelectiva e sensiti­va de quando chegarem à fase adulta.
Nossos educadores pre­cisam aprender a educar para a vida, sabendo fazer com os que os alunos se in­teressem pelos temas mais variados da nossa realida­de, e tomem gosto de saber das coisas, pois só assim ampliarão seus potenciais e darão contribuições a nossa sociedade como cidadãos e pessoas comprometidas com o bem comum. Vale a pena motivar nossos alunos ao estudo, pois somente assim conseguiremos uma geração nova capaz de dar respostas mais satisfatórias aos problemas do cotidia~ no. Temos certeza que, des­sa forma, estaremos cons­truindo um futuro melhor para todos.

VALMOR BOLAN - Dou­tor em Sociologia. Reitor do UNIBERO/SP reitor@unibero.edu.br

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